Terça-feira, 3 de Outubro de 2006

À espera de um beijo... ontem, hoje e sempre...

...corpo frágil, filha do teu sonho...menina

 

                                   Tens o ventre engrandecido

de quem dá à vida uma nova vida...

o ventre engrandecido,

de uma mulher guerreira

que carrega o peso da vida.

Tens o ventre,

os seios,

as coxas...

engrandecidas da batalha da vida...

Tens o corpo engrandecido,

amado,

mágico...

tens em ti

uma vida na vida...

 

sopro de sonho

Numa noite como todas as outras, surgi como um sopro de sonho no teu ventre, mãe.

Teu corpo despontou em dores de vida, a tua pele suou e teus olhos choraram sobre a minha pele frágil de sonho. Também eu chorei, quando teus braços, pai, me me lançaram bem lá para o alto, abrindo-me os olhos para o mundo e segredando-me aos ouvidos "Agora que nasceste, vê o mundo que te espera!Beija a tua mãe guerreira... e como ela, faz-te mulher!"

...os primeiros passos...

Numa pressa de correr quando nem sequer sabia caminhar, joguei-me do teu colo, mãe. Lancaie-me à rua da vida, que de longe me olhava e ao ver-me assim apressada... me sorriu... mesmo quando meu corpo estendido, meus olhos quietos vidrados no chão, tão escuro, tão sujo, sob mim... e chorei, chorei como se o mundo fosse acabar, chorei até os teus braços, mãe, me resgatarem da dor, não da queda, mas sim do meu corpo não correr, nem sequer caminhar... e a vida, lá de longe a olhar-me,a sorrir-me tão ternamente, como se cair fosse o primeiro passo a dar no seu caminho...

no teu corpo

Mãe

brinquei com a vida

nestas mãos de criança

...deixei-a cair,

- não se partiu!

no teu corpo

Mãe

chorei

e a vida abraçou-se a mim...

Mãe

no meu berço

a vida viu-me nua

e não tive vergonha de mim...

(...não me cobri...)

 

 

corpo a nu, peito em flor na descoberta...moça...

larguei os balões da infância,

deixei-os voar sobre o meu peito

e sorri...

- não sabia que jamais regressariam às minhas pequenas mãos.

calcei oe ténnis do meu irmão,

tropecei em mi...

o meu corpo já não cabia na saia que tanto querias, mãe...

o meu corpo crescia...

no teu quarto, mãe

achei adereços

sapatos de salto alto

e na esperança de chegar ao céu,

recuperar os meus balões de infância...

calcei-os numa tontura alcoolizada...

calcei-os

cresci um palmo...

vi-me no teu espelho

e sorri da minha figura tão estranha... de mulher...

... em frente ao teu espelho...

Em frente ao teu espelho enorme do teu quarto, mãe... um corpo em mim, um corpo maior que o meu corpito franzino que ghá dias (somente dias) corria para a rua atrás das brincadeiras. Há dias (somente dias) menina de tranças que odiava saias e brincava nas loucas correrias dos rapazes...

Em frente ao espelho, mãe... a meus pés todas as fotografias, as caixinhas sagradas da família, rostos que não conheço, rostos que até tu, mãe, desconheces, fotografias de cor sem cor, dessa menina de tranças... eu... no meu corpito franzino feliz... a meus pés, um bébé gordinho (dizes tu ser eu... e eu não me lembro), uma menina a dormitar em teu regalo (dizes tu ser eu... e e não me lembro), uma menina de tranças a rir, chorar...a brincar, correndo entre os loucos rapazes (dizes tu ser eu com oito anitos... e sim, sou eu... eu... sem idade), uma rapariga de jeans, diante de uma escola... pequena, grande, cada vez maior... a velhinha escola primária cresceu para um ciclo e o ciclo deu um pulo para liceu...

Em frente ao teu espelho, mãe, este corpo que não é meu, mas que tem todas as cicatrizes da menina de tranças que sou... em frente ao teu espelho, as roupas, as fotografias... em frente ao teu espelho... o tempo a passar e este corpo que (cada vez mais) não reconheço...

à espera de um beijo

Numa noite como todas as outras... nascemos em segredo para a vida. A cada gesto, a cada olhar o mundo diante dos nossos olhos a brotar em flor.

Duas crianças de peito aberto, cobertos por corpos adultos... corpos que nada mais eram do que fatos alugados para a ocasião de "ser adulto", fatos... que nos protegiam do do frio, mas que como todos os fatos alugados não nos serviam na perfeição, ficavam apertados aqui, largos ali.

Dois corpos unidos pela noite, demo-nos pela primeira vez, sem vergonha das lágrimas rolarem com o medo do beijo se perder, não pelo escuro da noite, mas pelo escuro do caminho que ninguém conhece e teme atravessar sozinho. Mas no escuro da noite, amámo-nos, demos os primeiros passos (sem saber) num caminho que não suponhamos existir.

Amámo-nos até a luz do dia raiar e mostrar o mundo tal com ele é... sem penumbras, sem cores distorcidas, sem linhas. Despertámos na luz, nus sobre uma cama como todas as outras, vimo-nos nus, envergonhados (talvez), vimo-nos com todas as cores vivas e todas as linhas definidas... e o silêncio trémulo deu vagarosamente lugar ao beijo que nos sossegou o peito num cântico mudo "Não te preocupes, posso não saber o que dizer, posso não saber se me visto apressadamente ou se permaneço assim, nu contigo... mas sei que não quero fugir... sei que agora... tudo em cores vivas, tudo em linhas definidas... gosto ainda mais de ti..."

a vida repousando em dois corpos nus...

o branco e o encarnado no laranja

das peles

dos lábios

das mãos que se descobriam encaixadas uma na outra

para sempre

os corpos na vida

a vida nos corpos a nu

na vertigem

do corpo branco virgem sobre o peito encarnado de vida

a vida no laranja de cada beijo

a vida a brotar do peito branco encarnado

num tom alaranjado

de um, coração

entregue à palma da tua mão

os nossos corpos na vida

num fio laranja

do branco no encarnado

de corações abertos em flor

a vida

a nossa manta estendida

onde nos vivemos

sem medos...

 

 

mulher, eterna apaixonada...mulher, mãe!

numa noite

de mil vidas

em ti

fui princesa

fui rainha

dos céus

numa noite

de mil vidas

em ti

fui criança

fui mulher

feliz nos teus braços

numa noite

de mil vidas

por mil vidas

em ti

 fui princesa rainha

fui criança mulher

fui feliz

em amor

filhos da noite

Na luz do dia, o mundo cheio de cores vivas, construído por linhas definidas... desperto a nu quando sais para mais um dia "adulto2 e também eu tenho de partir.

Olho-me a nu, sob a luz do dia... e não tenho medo, não tenho vergonha de me ver a nu... mas não me vejo "adulta" para o dia "adulto" que vou ter... parto, que o mundo espera-me (lá fora...)

A cada passo uma memória da noite junto a ti... a cada passo muita gente na rua, um trânsito que parece atravessar o universo em minutos milenares... e olho o céu em busca da Lua que te traz a meus braços... mas só vejo o Sol que nos arrasta para distâncias longínquas de um emprego, de uma hora de almoço em que o telefone toca e o nosso amor bem lá do outro lado dalinha (que nem sequer vemos) a dar-nos a sua voz...e falamos, falamos até nos esquecermos da comida no prato, a arrefecer, como o nosso corpo (embora numa diáfama frenética, sem que entendamos o porquê)... até que o fim chega "Beijo, até logo amor"... um beijo... um beijo teu amor.... um beijo que é apenas uma palavra, um som doce... um beijo desprovido do teu toque, sem o teu calor... sem o teu sabor, amor...

A cada passo... a esperança que a luz do dia esteja a terminar, dando o seu leito quente à noite... à nossa noite, amor!

em tons de Outono

Em tempos fui a semente do teu sonho, mãe... plantaste-me no teu peito, embalaste-me no teu ventre, até o meu corpo estar pronto para nascer...

Nos teus braços fizeste-me crescer, preparaste-me para os primeiros passos na rua da vida. Deste-me um poiso onde sarar as feridas, fazendo-me sorris à vida, que lá de longe me via tentar correr sem saber sequer caminhar... e me sorria.... e tu,mãe... sempre perto do meu peito, soltavas um beijo em que num sussurro secreto transmitias a tua força "nunca pares, pelo receio de chorar"

E assim mãe... pouco a pouco, soltei-me das tuas doces mãos, tropecei, caí, chorei... cresci... vendo a noite dar lugar ao dia no meu corpo, de menina, moça...mulher... com o peito aberto em flor(para todo o sempre)...

Fiz-me mulher, mãe... de peito aberto em flor à espera de um beijo que me aconchegue por todas as vidas que houver por viver...

Obrigada mãe, por todo o apoio...

pelo amor

eterna criança

nos braços maternos da vida

que o amor levou-me à tua rua

fez-me entrar no teu lar

e viver magia..

pelo amor

criança descalça

criança desnuda

criança feliz

que pelo amor

chorei em alegria

nos teus braços

pelo amor

 filha da esperança

guardada no cofre do peito

para o beijo entre amantes

que trocámos no segredo da noite

porque o amor nos mostrou o silêncio das palavras

deu-nos por inteiro

ao eterno

pelo amor pequena guerreira

despida de armas

despida das máscaras

do mundo

despida e feliz

nos teus braços

a cada toque do teu beijo

que o amor fez-me a nu

para ti

pelo amor eterna criança

nos braços maternos da vida

que o amor abriu-me o peito em flor

pelo amor

criança descalça

criança desnuda

criança feliz

por ti

meu amor

 

 

.... quando as palavras começam a escassear...

Não é um Adeus, é um breve até amanhã...

Num tom de despedida, deixo somente palavras de vida...

Posso estar de partida, rumo a um recomeço noutro tempo, noutro lugar... eu

Um recomeço com mil vidas às costas, que me pesam no corpo... um recomeço em busca de uma luz que me fere os olhos, um recomeço sem vergonhas de "reviver" o ontem, o anteontem, o antes do antes... para assim viver verdadeiramente o hoje, o amanhã... o depois do depois...

Um renascer em que me olho sem vergonha, olho-me já sem estranhar o cansaço, o cabelo esbranquiçado... a pele que mais parece o tronco de um secular sobreiro... ver-me mudada, em frente ao teu espelho, mãe,... e não me assustar como outrora...

Aceitar-me, para assim aceitar, respeitar e amar os outros...porque ainda hoje espero um beijo de todas as vidas... por todas as vidas...

o relógio

vai ditando as marcas da vida

à 1

ainda coberta no ventre materno...

às2

já pontapeava em busca da rua

às 3 nascia

brotava para a vida

às4 crescia

brincava

caía

aprendia as primeiras letras

os primeiros traços

às 5

 da criança restavam os sonhos

 já sabia as letras

já conhecia as palavras

e aprendia agora

as suas secretas histórias

às6

 das palavras decifradas

brotavam sentimentos confusos

nasciam beijos silenciados

em carícias

às7

abria uma nova porta

dseparava-me com estranhos

entrava num mundo novo.

às8

entrava nesse mundo

 sem medo

conhecia

desvendava

as suas fendas secretas

às9

agarrava-me na cauda de um sonho

abria novos caminhos

desejava novos horizontes

às10

um reinicio...

os livros fecharam-se

os sonhos teimavam em esvaecer

traçava-se um novo rumo...

às 11

revia todo o relógio

todas as cicatrizes

beijava em segredo

as lágrimas de saudade

às 12

 crescia a incógnita...

um papel em branco

esperando-me

um papel em branco

à espera de um rumo

um papel em branco

que espera ser escrito...

às 12...

o fim?

um inicio...?...

..... o relógio vai ditando as marcas da vida...

assim vos deixo

"um, dois, três

vou nascer outra vez"

ser menina

no teu regalo

ser moça

com o coração a abrir em flor

ser a mulher

que quiseste um dia

ser uma fotografia

no álbum da tua vida "um, dois, três

vou nascer outra vez..."

ser a menina

a quem deste a beber

- a vida

ser a moça a quem deste a provar

- o amor

 ser  a mulher

de um dia

que te deu a saborear todas as vidas...

ser ser a fotografia

que guardas no peito...

"um, dois, três..."

vou nascer, nascer e nascer

outra, outra e outra vez

para ser

para te ser

sempre uma doce lágrima antes do (eterno) adormecer

MÓNICA ALEXANDRA FONSECA ANTÓNIO

 

 

 

 


publicado por uriel_arcanjo às 10:44
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