...corpo frágil, filha do teu sonho...menina
Tens o ventre engrandecido
de quem dá à vida uma nova vida...
o ventre engrandecido,
de uma mulher guerreira
que carrega o peso da vida.
Tens o ventre,
os seios,
as coxas...
engrandecidas da batalha da vida...
Tens o corpo engrandecido,
amado,
mágico...
tens em ti
uma vida na vida...
sopro de sonho
Numa noite como todas as outras, surgi como um sopro de sonho no teu ventre, mãe.
Teu corpo despontou em dores de vida, a tua pele suou e teus olhos choraram sobre a minha pele frágil de sonho. Também eu chorei, quando teus braços, pai, me me lançaram bem lá para o alto, abrindo-me os olhos para o mundo e segredando-me aos ouvidos "Agora que nasceste, vê o mundo que te espera!Beija a tua mãe guerreira... e como ela, faz-te mulher!"
...os primeiros passos...
Numa pressa de correr quando nem sequer sabia caminhar, joguei-me do teu colo, mãe. Lancaie-me à rua da vida, que de longe me olhava e ao ver-me assim apressada... me sorriu... mesmo quando meu corpo estendido, meus olhos quietos vidrados no chão, tão escuro, tão sujo, sob mim... e chorei, chorei como se o mundo fosse acabar, chorei até os teus braços, mãe, me resgatarem da dor, não da queda, mas sim do meu corpo não correr, nem sequer caminhar... e a vida, lá de longe a olhar-me,a sorrir-me tão ternamente, como se cair fosse o primeiro passo a dar no seu caminho...
no teu corpo
Mãe
brinquei com a vida
nestas mãos de criança
...deixei-a cair,
- não se partiu!
no teu corpo
Mãe
chorei
e a vida abraçou-se a mim...
Mãe
no meu berço
a vida viu-me nua
e não tive vergonha de mim...
(...não me cobri...)
corpo a nu, peito em flor na descoberta...moça...
larguei os balões da infância,
deixei-os voar sobre o meu peito
e sorri...
- não sabia que jamais regressariam às minhas pequenas mãos.
calcei oe ténnis do meu irmão,
tropecei em mi...
o meu corpo já não cabia na saia que tanto querias, mãe...
o meu corpo crescia...
no teu quarto, mãe
achei adereços
sapatos de salto alto
e na esperança de chegar ao céu,
recuperar os meus balões de infância...
calcei-os numa tontura alcoolizada...
calcei-os
cresci um palmo...
vi-me no teu espelho
e sorri da minha figura tão estranha... de mulher...
... em frente ao teu espelho...
Em frente ao teu espelho enorme do teu quarto, mãe... um corpo em mim, um corpo maior que o meu corpito franzino que ghá dias (somente dias) corria para a rua atrás das brincadeiras. Há dias (somente dias) menina de tranças que odiava saias e brincava nas loucas correrias dos rapazes...
Em frente ao espelho, mãe... a meus pés todas as fotografias, as caixinhas sagradas da família, rostos que não conheço, rostos que até tu, mãe, desconheces, fotografias de cor sem cor, dessa menina de tranças... eu... no meu corpito franzino feliz... a meus pés, um bébé gordinho (dizes tu ser eu... e eu não me lembro), uma menina a dormitar em teu regalo (dizes tu ser eu... e e não me lembro), uma menina de tranças a rir, chorar...a brincar, correndo entre os loucos rapazes (dizes tu ser eu com oito anitos... e sim, sou eu... eu... sem idade), uma rapariga de jeans, diante de uma escola... pequena, grande, cada vez maior... a velhinha escola primária cresceu para um ciclo e o ciclo deu um pulo para liceu...
Em frente ao teu espelho, mãe, este corpo que não é meu, mas que tem todas as cicatrizes da menina de tranças que sou... em frente ao teu espelho, as roupas, as fotografias... em frente ao teu espelho... o tempo a passar e este corpo que (cada vez mais) não reconheço...
à espera de um beijo
Numa noite como todas as outras... nascemos em segredo para a vida. A cada gesto, a cada olhar o mundo diante dos nossos olhos a brotar em flor.
Duas crianças de peito aberto, cobertos por corpos adultos... corpos que nada mais eram do que fatos alugados para a ocasião de "ser adulto", fatos... que nos protegiam do do frio, mas que como todos os fatos alugados não nos serviam na perfeição, ficavam apertados aqui, largos ali.
Dois corpos unidos pela noite, demo-nos pela primeira vez, sem vergonha das lágrimas rolarem com o medo do beijo se perder, não pelo escuro da noite, mas pelo escuro do caminho que ninguém conhece e teme atravessar sozinho. Mas no escuro da noite, amámo-nos, demos os primeiros passos (sem saber) num caminho que não suponhamos existir.
Amámo-nos até a luz do dia raiar e mostrar o mundo tal com ele é... sem penumbras, sem cores distorcidas, sem linhas. Despertámos na luz, nus sobre uma cama como todas as outras, vimo-nos nus, envergonhados (talvez), vimo-nos com todas as cores vivas e todas as linhas definidas... e o silêncio trémulo deu vagarosamente lugar ao beijo que nos sossegou o peito num cântico mudo "Não te preocupes, posso não saber o que dizer, posso não saber se me visto apressadamente ou se permaneço assim, nu contigo... mas sei que não quero fugir... sei que agora... tudo em cores vivas, tudo em linhas definidas... gosto ainda mais de ti..."
a vida repousando em dois corpos nus...
o branco e o encarnado no laranja
das peles
dos lábios
das mãos que se descobriam encaixadas uma na outra
para sempre
os corpos na vida
a vida nos corpos a nu
na vertigem
do corpo branco virgem sobre o peito encarnado de vida
a vida no laranja de cada beijo
a vida a brotar do peito branco encarnado
num tom alaranjado
de um, coração
entregue à palma da tua mão
os nossos corpos na vida
num fio laranja
do branco no encarnado
de corações abertos em flor
a vida
a nossa manta estendida
onde nos vivemos
sem medos...
mulher, eterna apaixonada...mulher, mãe!
numa noite
de mil vidas
em ti
fui princesa
fui rainha
dos céus
numa noite
de mil vidas
em ti
fui criança
fui mulher
feliz nos teus braços
numa noite
de mil vidas
por mil vidas
em ti
fui princesa rainha
fui criança mulher
fui feliz
em amor
filhos da noite
Na luz do dia, o mundo cheio de cores vivas, construído por linhas definidas... desperto a nu quando sais para mais um dia "adulto2 e também eu tenho de partir.
Olho-me a nu, sob a luz do dia... e não tenho medo, não tenho vergonha de me ver a nu... mas não me vejo "adulta" para o dia "adulto" que vou ter... parto, que o mundo espera-me (lá fora...)
A cada passo uma memória da noite junto a ti... a cada passo muita gente na rua, um trânsito que parece atravessar o universo em minutos milenares... e olho o céu em busca da Lua que te traz a meus braços... mas só vejo o Sol que nos arrasta para distâncias longínquas de um emprego, de uma hora de almoço em que o telefone toca e o nosso amor bem lá do outro lado dalinha (que nem sequer vemos) a dar-nos a sua voz...e falamos, falamos até nos esquecermos da comida no prato, a arrefecer, como o nosso corpo (embora numa diáfama frenética, sem que entendamos o porquê)... até que o fim chega "Beijo, até logo amor"... um beijo... um beijo teu amor.... um beijo que é apenas uma palavra, um som doce... um beijo desprovido do teu toque, sem o teu calor... sem o teu sabor, amor...
A cada passo... a esperança que a luz do dia esteja a terminar, dando o seu leito quente à noite... à nossa noite, amor!
em tons de Outono
Em tempos fui a semente do teu sonho, mãe... plantaste-me no teu peito, embalaste-me no teu ventre, até o meu corpo estar pronto para nascer...
Nos teus braços fizeste-me crescer, preparaste-me para os primeiros passos na rua da vida. Deste-me um poiso onde sarar as feridas, fazendo-me sorris à vida, que lá de longe me via tentar correr sem saber sequer caminhar... e me sorria.... e tu,mãe... sempre perto do meu peito, soltavas um beijo em que num sussurro secreto transmitias a tua força "nunca pares, pelo receio de chorar"
E assim mãe... pouco a pouco, soltei-me das tuas doces mãos, tropecei, caí, chorei... cresci... vendo a noite dar lugar ao dia no meu corpo, de menina, moça...mulher... com o peito aberto em flor(para todo o sempre)...
Fiz-me mulher, mãe... de peito aberto em flor à espera de um beijo que me aconchegue por todas as vidas que houver por viver...
Obrigada mãe, por todo o apoio...
pelo amor
eterna criança
nos braços maternos da vida
que o amor levou-me à tua rua
fez-me entrar no teu lar
e viver magia..
pelo amor
criança descalça
criança desnuda
criança feliz
que pelo amor
chorei em alegria
nos teus braços
pelo amor
filha da esperança
guardada no cofre do peito
para o beijo entre amantes
que trocámos no segredo da noite
porque o amor nos mostrou o silêncio das palavras
deu-nos por inteiro
ao eterno
pelo amor pequena guerreira
despida de armas
despida das máscaras
do mundo
despida e feliz
nos teus braços
a cada toque do teu beijo
que o amor fez-me a nu
para ti
pelo amor eterna criança
nos braços maternos da vida
que o amor abriu-me o peito em flor
pelo amor
criança descalça
criança desnuda
criança feliz
por ti
meu amor
.... quando as palavras começam a escassear...
Não é um Adeus, é um breve até amanhã...
Num tom de despedida, deixo somente palavras de vida...
Posso estar de partida, rumo a um recomeço noutro tempo, noutro lugar... eu
Um recomeço com mil vidas às costas, que me pesam no corpo... um recomeço em busca de uma luz que me fere os olhos, um recomeço sem vergonhas de "reviver" o ontem, o anteontem, o antes do antes... para assim viver verdadeiramente o hoje, o amanhã... o depois do depois...
Um renascer em que me olho sem vergonha, olho-me já sem estranhar o cansaço, o cabelo esbranquiçado... a pele que mais parece o tronco de um secular sobreiro... ver-me mudada, em frente ao teu espelho, mãe,... e não me assustar como outrora...
Aceitar-me, para assim aceitar, respeitar e amar os outros...porque ainda hoje espero um beijo de todas as vidas... por todas as vidas...
o relógio
vai ditando as marcas da vida
à 1
ainda coberta no ventre materno...
às2
já pontapeava em busca da rua
às 3 nascia
brotava para a vida
às4 crescia
brincava
caía
aprendia as primeiras letras
os primeiros traços
às 5
da criança restavam os sonhos
já sabia as letras
já conhecia as palavras
e aprendia agora
as suas secretas histórias
às6
das palavras decifradas
brotavam sentimentos confusos
nasciam beijos silenciados
em carícias
às7
abria uma nova porta
dseparava-me com estranhos
entrava num mundo novo.
às8
entrava nesse mundo
sem medo
conhecia
desvendava
as suas fendas secretas
às9
agarrava-me na cauda de um sonho
abria novos caminhos
desejava novos horizontes
às10
um reinicio...
os livros fecharam-se
os sonhos teimavam em esvaecer
traçava-se um novo rumo...
às 11
revia todo o relógio
todas as cicatrizes
beijava em segredo
as lágrimas de saudade
às 12
crescia a incógnita...
um papel em branco
esperando-me
um papel em branco
à espera de um rumo
um papel em branco
que espera ser escrito...
às 12...
o fim?
um inicio...?...
..... o relógio vai ditando as marcas da vida...
assim vos deixo
"um, dois, três
vou nascer outra vez"
ser menina
no teu regalo
ser moça
com o coração a abrir em flor
ser a mulher
que quiseste um dia
ser uma fotografia
no álbum da tua vida "um, dois, três
vou nascer outra vez..."
ser a menina
a quem deste a beber
- a vida
ser a moça a quem deste a provar
- o amor
ser a mulher
de um dia
que te deu a saborear todas as vidas...
ser ser a fotografia
que guardas no peito...
"um, dois, três..."
vou nascer, nascer e nascer
outra, outra e outra vez
para ser
para te ser
sempre uma doce lágrima antes do (eterno) adormecer
MÓNICA ALEXANDRA FONSECA ANTÓNIO
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